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domingo, 26 de julho de 2009

Despedaçar

Os móveis se despedaçam
Como tudo ao redor,
Enquanto flutua no ambiente
Uma canção insistente
Entre dó e ré maior.
E tudo acontece em um lapso,
Intevalos de tempos pálidos
Em espaços desfigurados.
Não há nada
Além de minha alma desfalecida
E de meu corpo cansado.
Os pedaços de gentes
Que entram, me observam e vão embora,
São agora
Construções de toda a minha revolta e a minha desgraça,
São pedaços
Que entregam suas almas de graça
E transpiram altivas suas farsas.
Que desconhecem suas naturezas e concepções,
E elas estão tão distantes
De meus anseios e minhas emoções.
E olhando daqui
A solidão parece me envolver e me afogar
Me soterrar como avalanche,
E já não posso crer em sonhos e segundas chances
Só posso crer na realidade desse cenário insólito
Mais expressionista que "O grito" de Edward Munch.
Só posso crer na construção Nietzschiana do real e do mundo
Nesses atos absurdos
Nesses falsos personagens,
E que se explodam essas bobagens
E desmaterializem-se essas vontades e representações.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Espectador

Porque me deixaste
Na busca insana pelo teu sorriso?
E se escondeste em outros milhares de olhos
Gerando em minha alma
Esperas, conflitos?
Porque não vieste comigo?
Fiquei esperando
Enquanto o céu se despedaçava,
Cultivando a lembrança de seus beijos em minha alma.
Coração estático,
Caminhei horas inteiras, durante dias,
Colhendo no caminho
Dores muitas e agonias,
E amizades verdadeiras,
Mas você não esteve no caminho
E fiquei noites inteiras
Indagando à minha alma
Por onde esteve? Onde estava?
Outras mãos me tocaram
E não eram as tuas,
Outras paixões me arrastaram
Pelo resto das ruas,
Me usaram, me sujaram
E me deixaram nua,
Esperando ainda
Sua alma,
A alma sua.
Outros lábios
Violaram meus desejos
E tomaram dos meus lábios os seus beijos,
Iludiram minha fé e elevaram minha dor
Tantos foram os falsos olhos
Que me desfilaram vaidades
Disfarçado-as de amor,
Tantas foram as falsas trocas
Os momentos de devaneio e torpor
E sempre terminei da mesma forma,
No meio da estrada
Rebuscando o seu sabor,
Especulando seus olhos
A sorrirem pra mim
Como espectador.

Pedidos

Pedi a ausência dos sentidos
E que ocorresse comigo
A nulidade de todos os sentimentos,
Pedi, como quem pede pela vida
O calculismo e a frieza dos pensamentos,
Pedi a morte de um paladar inteiro
Para não sentir o gosto doce do mel
E a preferência pela realidade amarga
Corrosiva, feito fel.
Pedi a cura e o perdão
Por não poder tocar quem se ajoelha
E implorei por uma centelha de amor
Virando fogo a abraçar a quem me ama.
Mas só encontrei o vazio dos espaços
Me enrolando em meus próprios abraços
E me trancando só em minha cama.
Pedi, lúcida da significância dos pedidos
Pálida ao sondar no espelho meu sorriso
Mórbida, a explorar atrás de mim a minha dor,
Pedi a morte, a cabeça em uma bandeja,
Da paixão e do amor.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Esperança

Pedaços,
Juntados nas frestas do chão
E ausência total de desejos,
Olhos estáticos
Velando a emoção.
Morreu jovem
Pois já não podia respirar,
Morreu de um male comum,
O male de amar.
Sua morte tornou minha existência
Algo insólito e infundado
E ainda não pude aceitar
Ter ao meu lado
Alguém que te traga de volta.
Esperança,
Morreu e trancou suas portas
Para que eu jamais amasse novamente,
E me fez crer na morte dos sentidos
Que posso estar segura e ser contente,
Que posso estar contida em um mundo
Imparcial, inexistente.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ao seu lado

Você vem
Nas lembranças dos tempos de felicidade,
E me toma pelos braços
Para percorrer aquela cidade,
Aquela praça,
Aquele chão.
Você vem,
E me reanima o coração
Preparando aquele café forte,
Tocando aquela canção
Deitando-se ao meu lado
Em silencio,
Naquele alçapão.
E a cada dia
Seus cabelos brilham mais,
E quando te reencontro
Entre os lábios você me traz
As palavras que preciso ouvir,
E na verdade
É como se nunca tivesse partido daqui.
Foi ao teu lado
Que dormiram todos os meus sonhos
E que amei bem mais do que suponho,
Ao teu lado que deixei a verdadeira mulher que sou
E nos seus olhos repousei
A minha fé e o meu amor.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O fato

Apenas seria o mundo
Pura e convicta representação?
Um capricho absurdo
Vestido de falsa razão?

Todos os beijos e felicidades
Apenas seriam vontades
Realizadas quando surge uma idéia?
E seriam os deuses a platéia?

Se todas as coisas se resumem na vontade
Estaria você onde desejou estar
Exatamente encaixado em seu lugar.

Se todos os amores fossem verdade
Eu poderia então me conformar
Com o fato inequívoco de amar.

Do amor

Artimanhas do amor,
Esse sentimento que nem se permite ser descrito
Que permeia entre o cômodo e o perigo
E que só busca os desnorteados,
Esse veneno dos enamorados
Esse vício.
Desperta sensações
E cobra sacrifícios
E nunca aceita o não como resposta.
Adentra nosso íntimo
E escancara nossas portas
Ri da insensatez
Por detrás de nossas costas.
Fez-se assim, sem motivos, engenhoso
Parece puro e frágil
E mostra-se perigoso
Bastando que as portas sejam fechadas.
Então perdemos o rumo da estrada
E do céu, conhecemos o inferno,
De verões saborosos
Descobrimos o quanto a solidão pode ser mortal
Quando são rígidos os invernos.
Ele deixa de ser entorpecente
Mantendo-nos noites inteiras acordados
O amor cheio de santidades e pecados
Não passa de um menino
Cheio de vontades, mimado.

De verdade

Chuva singela
Molha a escada
E penso nela
Adentrando a madrugada.

Penso naquela
Cujos olhos sorriam a alvorada
Minha donzela
Eterna namorada.

Mas o céu traduz a realidade
Enquanto chove e alaga a cidade,
Ela não me amava de verdade.

Foi um devaneio típico da mocidade
Um capricho, uma vontade
Um sonho guardado junto as antiguidades.

Será você

O que seus olhos já viram
Que seus lábios me possam contar?
O que teu abraço envolveu
Que seja livre agora, para me abraçar?
Em que local do tempo e do espaço
Desatou os nós e os laços
E se fez livre, para me encontrar
Em que momento então
Segurarei suas mãos
E poderei te amar?
Será você
A realidade nascida dos meus sonhos?
O afago e o descanso
Para meus ombros enfadonhos,
Será você a nulidade entre prazer e dor?
Seja o que for
É você a calma e as horas que me valem crer,
O motivo maior
Para amanhecer.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um soneto

Talvez

Talvez a dor seja
A melhor forma de encontrar o caminho,
E o coração sinta e veja
Melhor a verdade, estando sozinho.

Talvez exista o momento
De buscar no intimo o verdadeiro amor,
E a cura nos próprios pensamentos
Dos medos internos, da solidão e da dor.

Talvez o tempo haja contra nossas vontades,
E cada momento aprimore melhor nossas vaidades,
E exista paz em comunhão com a saudade.

Talvez o silêncio releia e transcreva as fases,
E na nulidade dos impulsos o coração faça as pazes,
Com as cruas e amargas verdades.

Em seu lugar

Por uma noite apenas
Vem e se deita em minha cama,
Em infinitos momentos
Me sorve e me ama.
E mal amanheceu
Levanto e vou embora,
É só você e meu perfume
Trancados nesse quarto agora.
Não perca seu tempo me esperando
Pensando que vou te ligar,
Não jogue isso fora me amando,
Pegue suas roupas e vá embora
É o que eu faria em seu lugar.

Desleal

O que espero que faça
Com tudo o que passamos,
Se esqueça de graça
Das juras que trocamos.
Não relembre os momentos
Nem se imagine comigo
Mate os pensamentos
De que somos amantes e amigos.
O que espero que faça é que toque sua vida
Não me olhe sem graça
Nem exponha as feridas
Aliás eu prefiro que nem me encontre,
Que evite os meus olhos
E que não me afronte.
O que espero fazer
É gozar de você
Quando as minhas mãos segurar
E sentir o seu corpo tremer.
Cuspir em suas palavras
E devorar sua boca,
E quando disser que me ama
Responder que estás louca.
Não espere de mim
Atitudes de amor
Poesias sem fim
Ou um buquê de flor.
Não me espere dizer
Que estou com saudades
Pois não amo você
Doa a quem doer
Brinco com suas vontades.
Sou fria, calculista, desleal,
Usar seus sentimentos é normal,
Sou puramente louca
Te levo onde quiser
Tal arte aprendi
Amando outra mulher.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caminhos

Percorri essas ruas
Recolhendo nas pedras do chão meus pedaços,
Percorri a desgraça e a dor
Como um fato posterior
Ao de me perder em seus braços.
Explorei esquinas tantas
Onde se escondiam os meus desesperos
Observei a chuva desenhar nas paredes brancas, encharcadas,
Meus pesadelos.
Matei meu eu interior,
Afoguei então meu ego,
E encontrei em um beco sombrio
O silenciar das minhas vontades e o sossego.
Como se não bastasse
Encontrei na ausência de sentidos
Minha luz, meu porto seguro
E descobri que atrás de um muro
Mal importariam essências e felicidades.
Percorri as ruas da cidade
Até perder sentidos e visões,
Percorri milhares de ilusões
Até poder ser certa e estar sozinha.

Amor e medo

Quando o mundo foi “feito”
Acaso não foi por um desejo
Daquele que é o puro e pleno amor?
A matéria foi apenas mais uma vaidade
Condenando à confusão da dualidade
O imutável, eterno pecador.
Além do bem e do mal,
Quem realmente pecou?
Mas a beleza não está no pecado
E sim no poder de convertê-lo
E estar acima dele.
A beleza não se esconde apenas no tocar de nossas “peles”
Mas nasce da confusão das nossas almas,
Da clareza, da calma,
Que perdoa os pecados, que reconstrói um coração.
Num lugar onde o homem tão dual
Procura a razão,
Ele se choca violentamente contra oscilações de emoção
Que o leva ao verdadeiro céu de amores.
E no tocar dos lábios
Nos perdemos, na confusão dos sabores,
Na tensão de esquecer
Se foi certo ou errado.
Apenas quem prova a verdade ou a mentira será libertado,
SE NÃO HÁ ERRO EM AMAR
NÃO HÁ O QUE SER PERDOADO,
No pulsar dos corações
Não há nada.
Há apenas um momento, uma estrada
E eu te espero para ser trilhada,
E eu te quero, não me custa nada,
Nada além de um segredo...
Entre resistência e pecado
Somos nós,
Amor e medo.

Eu sei

Como uma bela melodia francesa,
Um show que ainda não acabou,
Você insiste em ser
A lembrança mais doce
Que meu coração não apagou.
Como os móveis em meu quarto
Tão estáticos,
Como o vento a bater em minha cortina,
Esse silêncio, essa distância
Tudo isso me alucina,
Como a saudade de você.
Nossos pensamentos se perdem
Enquanto nossos corpos se encontram
Como se não fossem nossos, involuntariamente,
E os fantasmas ainda insistem
Em confundir nossas mentes,
Eu sei quando sofre
E sei quando mente.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Morta

Dia após dia
Nem sei mais o que consumo,
Apenas sei que te mastigo em agonia,
E em silencio
Já nem assumo.
Tantos caminhos,
Muitos passos,
Tantos minutos
Que alçam vôo,
Nem sei quanto tempo me perco no espaço
Apenas sei que te remôo,
Aprisiono suas lembranças em tantos laços.
Me despedaço,
Me comovo.
Amordaço minha alma
Sufocando-a espero que ela morra.
Prefiro a morte silenciosa a gritar seu nome,
E ter a minha frente um banquete
Sem saciar a fome,
Prefiro esquecer que ainda existe um telefone
E me lembrar apenas
Da forma mais fria,
Que te sepultei um dia
E que estás morta.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Alguém para amar.



Busco com uma urgência silenciosa
Alguém que esteja além da minha cama
Além de uma noite apenas.
Aquela cujos olhos virão cheios de emoções
E de segredos mil para contar,
Busco alguém que já não queira ser usada,
Alguém para amar.
Chamo baixinho
Aquela cujas mãos se entrelaçarão nas minhas
Só pedindo amor em troca,
Aquela cujos beijos me farão sentir não estar morta.
Rezo, declamando preces,
Que venha e que prove o quanto me merece.
Busco aquela que me espera,
Em noites frias, tempestuosas
Ou em doces primaveras,
Aquela cuja alma de desejos está repleta,
Aquela que distante me alimenta e me completa.
Busco, pois já não posso estar parada a esperar,
Já não posso confundir o meu olhar
Com os azuis vazios do inverno.
Exploro com o tato cego
As mãos do anjo que me vai roubar o fôlego
A alma sã que me vai tirar do inferno,
Dessas bocas tantas borradas em mim
Desses corpos espalhados em minha cama,
Dessas noites que não quero
Desse nó em minha garganta.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Platonismo

Deixo que sua voz me embale
Olho-te como quem não sabe,
O quanto alimento de vontade
Quando me perco em seus olhos.
Deixo que você me leve
Ainda que seja breve,
Deixo-me apaixonar
Mesmo que secretamente.
Provo de seus lábios
Tomo seu corpo
Só em pensamento.
Entrego minha alma
Em um beijo que acalma
Em um abraço discreto,
Só por um momento.
Seja minha em teus sonhos
Nos cenários mais distantes
No trocar de olhares
Mero platonismo
Nesses íntimos instantes.

Inconsolável

Percebi
No ápice do amor
Todos os sentidos que me provocava,
Mas mergulhando em minhas fantasias
Mal percebi seu esquecimento.
Esqueceste
Que um pouco mais acima
Existia um coração,
E que no íntimo de tudo o que provava
Com suas mãos e com sua boca úmida
Existia uma alma.
Esqueceste,
Que cada coisa mínima desfila o seu preço,
Até o que se grita,
E aquilo o que se cala.
Esqueceste a consciência e o caráter,
E por prazer até matou a lucidez,
Mas lembrou-se de ensinar-me
Que erros inconsoláveis
Só se comete uma vez.

Sós

Guardei umas lembranças na pasta preta,
Outras em uma sacola,
Livros de poemas meus e delas,
Cartas, desejos, mentiras e verdades,
Guardei tudo, para não repetir os mesmos erros.
Ainda mais,
Guardei as duas no mesmo lugar,
Como se ambas fossem uma coisa só,
Já não me lembro bem
Como e quando foi,
Nem sinto falta,
E em minha garganta
Não há nenhum nó.
Apenas guardei
Em um abismo
Tão frios momentos
Só dois pensamentos,
A sós.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Lapso

Tudo é momentâneo,
Como o tempo
Lapso da existência,
Tudo é vaidade
Luxo
Carência.
Além disso?
Não há nada!